quinta-feira, 23 de maio de 2013

Busca






Na primeira estação em que o comboio pára, eu saio. Não sei que sitio é, nem o nome, apenas uma estação. Saio ao meu ritmo, não me apetece correr, não vou atrás de nada nem de ninguém, vou ao meu encontro, ao meu encontro do meu eu interior.
Pelas indicações que me tinham dado, era esta a estação em que tinha que sair. Peguei na mochila e desci do comboio.
Um sol apanha-me desprevenida e faz-me fechar os olhos, procuro na mochila os óculos de sol, coloco-os e olho em frente, deixo cair a mochila, está pesada, embora carregue apenas o essencial, mudas de roupa interior umas t-shirts, um camisolão, gel banho e sampoo e protector solar, porque acho que vou ter de andar bastante a pé até ao lugar que busco para a minha caminhada interior. Olho á volta, o comboio que me trouxe já vai ao fundo da linha, em frente uma estação com os wc's ao lado, e uma estrada ao lado.
Levanto a mochila coloco-a ás costas e dou uns passos em frente, passo por dentro da estação, na bilheteira está sentado um funcionário com um ar de quem está mais a dormir que a trabalhar, não devem abundar muitos passageiros por estas bandas, é uma estação muito pequena, numa vila muito pequena, perdida algures naquele Alentejo Sul, quase Algarve.
Saio e olho a ver se encontro um táxi, para me dizer onde fica o lugar que busco. Nada, nem vivalma nas redondezas, sento-me na escada e fico a pensar, afinal estou firme para seguir o caminho que quero descobrir? O suor escorrega-me pelos olhos, está calor, naquele pedaço de terra algures por ali. Nem um café, levanto-me e vou á procura de alguém ou de uma tasca ao menos para ficar á sombra e descobrir quem me possa indicar o caminho.
Caminho e ao virar uma esquina encontro um pequeno café, entro e fico á espera que os olhos se adaptem ao escuro, um brisa fresca agradável percorre o meu corpo, vejo ao fundo uma mesa sem ninguém, vou até lá.
Afinal naquele pedaço de terra habita gente, peço uma água tónica e um café, olham todos para mim, uma estranha naquela terra, baixo a cabeço num acto de cumprimento, as pessoas viram-se desinteressadas em mim.
Abro um mapa, vou ver se entendo aqueles riscos azuis, vermelhos, por fim lá encontro o nome do lugar que me trouxe até aqui.
Chamo o sr., pago a despesa e pergunto-lhe como vou até áquele pontinho no mapa. Ele diz-me que ainda é um bocado a pé, mas se esperar mais um bocado ele leva-a de táxi, porque ele é também, o taxista do local. Agradeço e espero.
Cheguei ao local, finalmente. Paguei o táxi e fiquei com o numero de telefone do sr., para o caso de ser preciso ir-me buscar. Caminho devagar, aliás naquele sitio tudo anda devagar, até a brisa sopra devagar, deixando no ar um cheiro a flores silvestres.
Respiro fundo, quero absorver tudo por onde passo, as cores, as coisas, os cheiros.
Sinto uma paz enorme, um prazer de conseguir ter paz.
Ao meu encontro caminha uma pessoa, sorrio, afinal ele estava á minha espera, abraçamos-nos, somos amigos, embora eu tenha um fraquinho por ele, tento disfarçar. Dois beijos carinhosos na face.
Leva-me para dentro, á minha volta um jardim lindo com erva rasteira pintada aqui e ali por flores de todas as cores, lindo.
Dentro do edifício, um edifício de um só piso, impera o branco, almofadas de todos os tamanhos e cores espalhadas sobre a tijoleira, nas paredes quadros de vários mestre e paisagens de paz, uma música de fundo, relaxante, acuso o cansaço de tantas horas de viagem, apetece-me enroscar-me naquelas almofadas e dormir.
Lá dentro ouço barulho de vozes, simpáticas estão a trocar impressões, sou apresentada ao grupo, todos me recebem de braços abertos, mostram-me o local onde vou ficar, pouso a mochila e vou ter com eles. Ao fim do dia já eram conhecidos de longa data, todos tínhamos algo em comum, a procura de encontrar-mos o nosso eu interior.
Entre meditações, caminhadas, conversas, Yoga, dança. dormir e comer, os dias passavam rápidos, mas eu ainda não tinha encontrado o que buscava.......
Nesse dia fui com o grupo até um lugar a que eles chamavam mágico, andámos a pé durante algum tempo, por entre árvores, arbustos, calcando um trilho pequeno e sinuoso, até que chegamos a uma clareira, sentámos-nos e meditámos em conjunto, depois dirigimo-nos para uma entrada numa rocha, baixámos-nos um bocado e quando abro melhor os olhos deparo-me com um amplo salão todo em rocha rosa, uma calma e um som lindos, eu não acreditava que houvesse locais assim. Sentei-me no chão e olho para uma espécie de altar esculpido naquela rocha rosa e sinto que finalmente encontrei um local, onde me sinto leve, em paz, entra por mim uma calma com que sempre esperei.
Vou voltar em breve, não encontrei o meu eu interior, mas pelo menos encontrei o lugar onde posso encontrar-me.


Ana Borges










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