segunda-feira, 19 de abril de 2010

Uma mera reportagem com tanto conteúdo




Principalmente hoje, agora, neste preciso momento apetecia-me escrever sobre ti. Mas as palavras não saem ou eu não as consigo escrever.
Ao ver aquelas pessoas, aqueles lugares, não consegui conter as lágrimas e chorei, chorei por ti chorei por mim e chorei por todos aqueles que ali estavam.
Porque será que nos lembramos de tantas coisas que nunca deviam ter existido, nunca as deveriamos ter vivido, nunca deveriam ter sido nossas???? mas infelizmente existiram, elas estão tão presentes na nossa memória, que ao ouvir os depoimentos daquelas pessoas, ver aquela degradação tão grande do ser humano, ver aquele médico com quem tantas vezes falei ao longo de tão compridos 29 dias, tudo isso junto, foi o fim, foi o dilúvio não consegui conter e chorei, foi como se estivesse ali, naquele lugar, agora mesmo, como se tudo aquilo me estivesse a ser dito palavra a palavra, e eu a ouvir como um robot, pois o teu fim estava a chegar, e nada havia a fazer.
Palavras para quê????
Nem que quisesse falar contigo, conversarmos, passear de mão dada pelos jardins daquele hospital, nem isso eu pude fazer, porque "ela" colou-te á cama, não falavas, não andavas, limitavas a entender e a ouvir tudo o que te dizia, contava-te o que tinha acontecido nos longos 200 Km, todos os dias para lá e para cá, ouvias e eu sei que mesmo sem dizeres uma palavra entendias tudo o que te dizia.
Mentia-te, dizia que os negócios iam andando, não tão bem como quando tu lá estavas, mas andavam, mentira, mentira, mentira, andavam era para trás, todos os dias, desgastava-me em correrias, entre os 200Km, e os restantes que fazia na cidade que adoptaste como tua, numa correria entre o Hospital e os negócios, contabilista e banco, finanças e funcionários porque tudo tinha que ser tratado, não que eu esperasse que voltasses para continuares o teu trabalho, mas precisamente por saber que jamais voltarias a tratar dos teus assuntos.
Sempre te abracei e beijei, a doença não se pega, a doença consome-nos interiormente, fui-me abaixo, os últimos dias já conduzia como um robot, como se o carro soubesse todos os passos a dar, onde me tinha de levar tal era a rotina desses dias, quando chegava ao teu lado abraçava-te, beijava-te, penteava-te o cabelo e a barba.
Apeteceu-me abraçar todas aquelas pessoas, tão juntas e tão sós.
Trouxe os teus restos físicos para a nossa cidade, para a cidade que te viu nascer, o espírito esse deixei-o, era livre e eu quis que ele continuasse livre e fosse para onde ele queria, viajar, viajar muito, por isso não vou ver os teus restos tapados com uma pedra, nada me dizem, é só o teu "fato" e esse não me interessa, já está fora de moda, não te posso dizer se estás giro ou não, porque tu não estás lá, por isso mando-te mensagens para o ar, sei que irão ter contigo.
Um abraço e um beijo grande Pai.

AnaBorges




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