É verdade, mais um dia, e que dia. Já nem conto os dias, nem as semanas, nem os meses. A vida dentro de mim parou, lá fora continua a azafama diária, mas em mim, já nada existe, sou um fato de pele que reveste uma anatomia que ainda me permite andar, e respirar, nada mais.
Nem escrever me apetece, apetece-me correr, correr até as pernas pararem de cansadas, e eu cansada dormir, dormir até acordar noutro lugar sem ter dado conta da passagem, mas a vida não é, ainda, assim, pode ser que venha a acontecer, seria uma prenda maravilhosa. Sonharia com aquela viagem que sempre desejei fazer e nunca fiz, e não vou culpar ninguém, nem a falta de dinheiro, nem as proibições, nem o ar de escárnio, só a minha cobardia me impediu de a fazer, sonhar com aquele vestido que tanto quis e nunca tive coragem de o comprar, não vou culpar ninguém, nem o vestido ser caro, nem o ar de escárnio como se o dizer que gostava tanto daquele simples trapo, fosse uma coisa tão ridícula, não a culpa é só minha, de mais ninguém. Deixar de olhar para os problemas dos outros e olhar só para mim, para as minhas vontades, gostos, alegrias. Simples quimeras.
Devaneios de uma noite de Julho de um ano qualquer.
AnaBorges